Jogo de Palavras

"No principio era o logos..."

terça-feira, dezembro 25, 2007

Natal porquê?


(Foto tirada por J. R)


No séc. IV, de forma a suplantar a festa pagã do «Natalis solis invicti» e para combater controvérsias cristológicas, para afirmar a fé no mistério da Encarnação, nasceu a celebração do Natal. O início, Natal (no Ocidente) e Epifania (no Oriente) constituíam uma celebração que tinha um único e idêntico objecto: a Encarnação do Verbo, embora com diversidade de tons. O advento aparece no Ocidente como tempo de preparação do Natal. Na Gália e Hispânia (finais do séc. IV) havia elementos referidos a práticas ascéticas, e pela segunda metade do séc. VI, em Roma havia elementos de carácter litúrgico. Das seis semanas iniciais do Gelasiano passasse a quatro com S. Gregório Magno. O tempo de Advento é assim preparação para o Natal, solenidade que comemora o primeiro advento do Filho de Deus entre os homens mas, ao mesmo tempo, leva a recordar uma segunda vinda de Cristo. O tempo de Advento é o tempo Mariano por excelência, pela sua cooperação no mistério da redenção.

A primeira documentação sobre o Natal encontra-se em Roma. O Cronógrafo de 354 indica, enquanto calendário civil, o 25 de Dezembro como «N(atale) Invicti» ( festa do «Sol Invictus»). No início da lista dos bispos de Roma, anota o dai 25 de Dezembro como o nascimento de Cristo em Belém de Judá.

As dez homilias do papa Leão Magno (440-461) dão-nos informações da organização e conteúdo da festividade de Natal. Os primeiros textos de Natal são dos sécs. V-VI. Já Santo Agostinho vê o Natal apenas como uma simples memória ou aniversário do nascimento de Jesus, entendendo o Natal como o verdadeiro «sacramentum». S. Leão fala do Natal como «mirabile sacramentum», para S. Leão o Natal insere-se no acontecimento global da salvação e está em estreita relação com a Páscoa.

A actual liturgia de Natal exprime uma teologia que remonta ao grande teólogo do Natal, S. Leão Magno. Os textos bíblicos e eucológicos da Missa não se detêm no facto histórico, mas deste remontam ao mistério contido no mesmo. Natal é já o princípio da redenção salvadora, a condição para a morte e ressurreição. Um dos temas presentes na liturgia natalícia é o do intercâmbio de “Deus que se fez homem para que o homem se fizesse Deus”. O Natal tem uma dimensão cósmica no sentido que pela encarnação Cristo reintegra o universo, aquele que era invisível tornou-se visível aos nossos olhos. Gerado desde toda a eternidade, começou a existir no tempo para renovar a natureza decaída, restaurar o universo e reconduzir ao reino dos céus o homem perdido pelo pecado (cf. MR). O tempo de Natal vai desde as primeiras vésperas de 25 de Dezembro até ao Domingo depois da Epifania (Baptismo de Jesus).

A Epifania trata-se da originária festa oriental do nascimento de Jesus. Quando passa para Roma, S. Leão Magno chama-lhe epifania que só a partir dos sécs. XII-XIII se impõe definitivamente o nome de «epiphania». Na antiguidade greco-romana este termo significava a chegada de um rei ou de um imperador ou então para indicar a aparição ou intervenção de uma divindade.

As origens da Epifania remontam ao Egipto. O testemunho mais antigo é de Clemente de Alexandria nos começos do séc. III. Cassiano depois do ano 420, dá um testemunho mais explícito. No Egipto a epifania celebrava tanto o baptismo de Jesus como o seu nascimento. Há indícios para pensar que a transferência para 6 de Janeiro da festa romana de 25 de Dezembro do nascimento de Jesus tenha sido influenciada por uma celebração pagã.

Na segunda metade do séc. V, Roma aceitou a festa da Epifania. Na liturgia romana actual, a Epifania conserva o seu característico sentido de manifestação aos gentios por meio de Cristo que é a luz do mundo.

Parte de um Resumo do Capítulo XIV – O Ano Litúrgico, do livro Liturgia, história, celebração, teologia, espiritualidade. De Matias Augé.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Bom Natal!



(Foto tirada por Nuno M.)


Nasce mais uma vez, Menino Deus!
Não faltes, que me faltas neste Inverno gelado.
Nasce nu e sagrado no meu poema,
Se não tens um presépio mais agasalhado.
Nasce e fica comigo secretamente,
Até que eu infiel, te denuncie
aos Herodes do Mundo.
Até que eu, incapaz de me calar,
Devasse os versos e destrua a paz
Que agora sinto, só de te sonhar.

Miguel Torga (24 de Dezembro de 1987)