Jogo de Palavras

"No principio era o logos..."

domingo, abril 26, 2009



É com orgulho que, espiritualmente me uno, hoje, a muitos irmãos e irmãs que celebram a canonização de um português, um exemplo a seguir para a Igreja Universal. Orgulho por ser português, orgulho por carregar o mesmo nome deste herói nacional, muitas vezes relegado para segundo plano.

A figura incontornável de Nuno Álvares Pereira continua actual passados sete séculos. O Santo Condestável do reino, viveu numa época em que Portugal vivia uma crise política e económica. Nuno de Santa Maria será o oitavo santo do catolicismo português. Às virtudes da sua vida, assumidas segundo a experiência católica de olhar os outros e as coisas, acrescenta-se o facto do seu percurso biográfico estar intimamente relacionado com a História de Portugal, a sua independência e consolidação da nacionalidade.

Para D. Manuel Clemente, à santidade que Nuno de Santa Maria viveu ao longo de toda a sua vida, acrescenta-se a importância que tem para Portugal. Especialista em História, diz que o Santo Condestável "tem um papel tão marcante como o de D. Afonso Henriques". D. Manuel Clemente considera Nuno Álvares Pereira "o segundo fundador da Pátria portuguesa".

Ressaltando as virtudes heróicas de Nuno de Santa Maria, devemos tomar o seu exemplo e imitando-o, teremos uma resposta mais estruturada, real, capaz de ir ao encontro dos problemas sócias, políticos e económicos que hoje vivemos. Um exemplo de como reagir aos desafios do tempo presente.

“Vivemos em tempo de crise global, que tem origem num vazio de valores morais. O esbanjamento, a corrupção, a busca imparável do bem estar material, o relativismo que facilita o uso de todos os meios para alcançar os próprios benefícios, geraram um quadro de desemprego, de angústia e de pobreza que ameaçam as bases sobre as quais se organiza a sociedade. Neste contexto, o testemunho de vida de D. Nuno constituirá uma força de mudança em favor da justiça e da fraternidade, da promoção de estilos de vida mais sóbrios e solidários e de iniciativas de partilha de bens. Será também um apelo a uma cidadania exemplarmente vivida e um forte convite à dignificação da vida política como expressão do melhor humanismo ao serviço do bem comum” (Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa por ocasião da canonização de Nuno Álvares Pereira).

São Nuno de Santa Maria, incontestável Santo Condestável, ora por nós.

sábado, abril 25, 2009

"Ilustre filho"


"Se quem com tanto esforço em Deus se atreve


Ouvir quiseres como se nomeia


«Português Cipião» chamar se deve;


Mas mais de «Dom Nuno Álvares» se arreia.


Ditosa pátria que tal filho teve!


Mas antes, pai! que, enquanto o sol rodeia


Este globo de Ceres e Neptuno,


Sempre suspirará por tal aluno."
(Lusíadas, Canto VIII, Est. 32)

sexta-feira, abril 24, 2009

Um novo Santo para o mundo

(Tirada por Nuno M.)

Nasceu no dia 24 de Junho de 1360, em Cernache do Bom Jardim, filho ilegítimo de D. Álvaro Gonçalves Pereira, que foi Prior do Priorato do Crato, dos célebres Cavaleiros de São João de Jerusalém e de Ilia, por quem Nuno conservaria sempre um terno afecto. A sua infância e a sua adolescência decorreram neste ambiente entre cavalheiresco e profundamente religioso que havia nestes grupos nos reinos do baixo medievo da Europa. Imbuído do ideal de Galaad, um dos cavaleiros da mesa redonda que acompanhavam o mítico Rei Artur, quis permanecer celibatário, mas, para não contrariar o seu pai, veio a casar-se com D.ª Leonor de Alvim, com quem teria três filhos e com quem teve uma vida matrimonial feliz. O casamento teve lugar a 15 de Agosto, festa da Assunção de Maria, de 1376.

Dois dos seus filhos morreram crianças e apenas a terceira, D.ª Beatriz, chegaria à idade adulta, casando-se com D. Afonso, o filho do rei D. João I, a quem Nuno, seu aio, tinha servido sempre com valentia e fidelidade.
O jovem Nuno sobressaiu rapidamente na corte, para a qual foi destinado para o serviço pessoal do rei Fernando desde a adolescência, quando tinha apenas treze anos. A sua nobreza de ânimo, a sua valentia, a lealdade para com o rei e o ideal de pureza que parecia ter-se traçado desde criança, a imitação do casto herói Galaad, chamaram à atenção quer da família real quer dos outros cortesãos.

A morte do rei D. Fernando de Portugal originou um problema dinástico, algo muito frequente nos reinos da Península Ibérica, nos tempos da Reconquista. Alguns cavaleiros portugueses (alguns irmãos de Nuno, inclusivamente) defendiam o direito ao trono de Beatriz, filha do rei Fernando, casada com o rei de Castela, o que provavelmente teria suposto a incorporação da coroa portuguesa no reino de Castela, que se ia configurando – juntamente com o de Aragão – como o reino mais forte da Península Ibérica. Mas outros muitos cavaleiros lusitanos, entre eles Nuno, defendiam o direito ao trono de João, irmão do rei Fernando. Havia também interesses internacionais e não faltaram cavaleiros franceses e ingleses que ajudavam um ou outro lado. Não demorou muito a rebentar uma guerra entre os dois reinos, provocada pelo problema da sucessão dinástica. A guerra em si durou vários anos, com períodos de relativa calma. Em Abril de 1384, as tropas portuguesas (ao serviço de D. João) vencem a facção rival, na batalha de Atoleiros (o que originou, pouco mais tarde, a subida ao trono de João I, que nomearia Nuno como seu Condestável). Um ano mais tarde, no dia 14 de Agosto de 1385 (em vésperas da festa da Assunção de Nossa Senhora), as tropas comandadas por Nuno Álvares Pereira derrotaram os seguidores do rei de Castela, na memorável batalha de Aljubarrota, e, pouco depois, em Valverde (já dentro do reino de Castela), o que fez com que Nuno ganhasse uma grande fama como herói nacional. Ainda que a guerra se tenha prolongado por algum tempo, e inclusivamente tivessem havido escaramuças anos mais tarde, a vitória já estava do lado português. A paz definitiva seria assinada em 1411. Pode ser significativo da fama que Nuno ganhou como herói nacional e como Condestável o facto de que Luís de Camões, o grande poeta português, incluísse uma elogiosa referência ao nosso homem, no canto IV do seu célebre poema épico Os Lusíadas, obra cimeira da literatura portuguesa do Renascimento. Também na vizinha Espanha vários autores dos séculos XVI e XVII (Calderón de la Barca ou Tirso de Molina, entre outros) louvaram a nobreza e a heroicidade do já mítico Condestável.

Mas, pouco mais tarde, a desgraça abateu-se sobre o Condestável. Em 1387, morre a sua esposa, D.ª Leonor de Alvim, que residia no Porto com a filha dos dois. Depois, o ainda jovem Nuno negou-se a contrair novo casamento. A vida de piedade e penitência (que sempre tinha tido) acentua-se sobremaneira e o Condestável, herói de tantas batalhas, famoso guerreiro ao serviço do rei, vai, a pouco e pouco, adquirindo a reputação de homem piedoso e santo.

Há que situar, nestes anos, a sua intervenção decisiva para a construção (entre outros templos e conventos) do convento e da igreja dos carmelitas, em Lisboa, cumprindo assim uma promessa votiva feita a Nossa Senhora. Consta que teve contacto com a Ordem através de um antigo companheiro de armas que se tinha feito carmelita no convento de Moura, D. João Gonçalves, e do Frei Afonso de Alfama, Vigário da Ordem em Portugal, com quem parece que tinha grande confiança e amizade. Foi escolhido, para localização do dito convento, um dos lugares mais altos de Lisboa. As obras duraram mais de oito anos. Os carmelitas, vindos do convento de Moura, instalaram-se no celebérrimo “Carmo” de Lisboa no dia 15 de Agosto (mais uma vez) de 1397, onde permaneceram até 1755, data em que o templo foi praticamente destruído pelo terramoto de Lisboa.

Em 1415, Nuno viria ainda a ter tempo de participar numa nova campanha portuguesa, desta vez para além do estreito de Gibraltar, em Ceuta, comandando e contribuindo com a sua experiência militar na expedição portuguesa que se dirigia para o referido lugar do Norte de África. Nuno, com 55 anos, sentia-se já cansado. Pouco depois aconteceu a morte da sua filha, o que provavelmente acelerou a sua decisão de se afastar do mundo e de ter uma vida totalmente entregue à penitência, à piedade e à oração.

Deste modo, em Agosto de 1423, o Condestável, figura admirada e de grande prestígio, decide, diante do espanto geral, ingressar no Convento do Carmo, que ele mesmo tinha fundado, e levar uma vida de total penitência e austeridade, como irmão donato. No dia 15 de Agosto, festa da Assunção de Nossa Senhora e data à que parece que a vida de Nuno estava intimamente ligada, vestiu o hábito Carmelita, tomando o nome de Frei Nuno de Santa Maria. Apesar das pressões de toda a ordem, recusou privilégios ou mitigações da austeridade conventual. Por intervenção de D. Duarte (filho de João I, o rei a quem Nuno fielmente tinha servido durante anos), convenceu-se, ao menos, que não fosse para um convento longínquo, como era seu desejo, para evitar visitas e homenagens que iam contra a sua vontade de total penitência e humildade. Também conseguiu o príncipe que Nuno renunciasse ao seu desejo de mendigar para o convento pelas ruas de Lisboa, como faziam os irmãos donatos.

Prova da sinceridade e da firmeza da sua vontade foi o facto de que sempre recusou ser chamado doutra maneira que não “Frei Nuno de Santa Maria”, recusando qualquer tipo de título de nobreza. Mais ainda, quando o príncipe D. Duarte quis que conservasse o título de Condestável, Nuno respondeu com humildade, mas com firmeza: o Condestável morreu e está enterrado num santuário…Depois de oito anos de vida de penitência e de grande austeridade, Frei Nuno de Santa Maria morreu em Lisboa, no dia 1 de Abril de 1431. O seu funeral constituiu uma enorme manifestação de dor, quer por parte da nobreza e da família real (que tinham uma grande dívida de gratidão para com aquele nobre cavaleiro vencedor no campo da batalha), quer por parte dos carmelitas e de tantos devotos, que viram nele um modelo de penitência, de humildade e de desprezo das galas e honras deste mundo.

quinta-feira, abril 16, 2009

A misericórdia do Pai





Muitas expectativas levava nesta peregrinação a Taizé. Como ia ser esta segunda vez, a primeira vez sem o fundador? Conseguiria viver e beber na fonte, com o peso da responsabilidade, como animador de um grupo? O espírito de Taizé manteve-se após a partida do irmão Roger?


Após vinte e tal horas de viagem e uns 2400 km percorridos, chegámos a Taizé. A confusão reinava, uma confusão ordeira e controlada, pois era altura de uns grupos partirem e chegarem outros; porém, a humildade do acolhimento tudo diz e fala da experiência que iriamos viver ao longo da semana.





Os primeiros contactos começaram a ser feitos, tudo era novidade para muitos do grupo, mas davam os primeiros passos como se na própria casa estivessem. Quem vem a Taizé, sente-se realmente em casa, na casa do Pai, em que é possivel a comunhão e a paz de coração. Em que é possivel fazer caminho de mãos dadas, sem questionar raça. cor da pele ou credo. Todos vão em busca do mesmo, todos procuram o rosto misericordioso de Deus.




Ao ritmo dos irmãos da comunidade, alguns milhares de jovens refizeram a sua vida durante uma semana. Acordar cedo para a oração da manhã em comunidade, reflexão bíblica e grupos de partilha, os sinos, mais uma vez, antes do almoço, chamavam-nos a abandonar tudo para a oração. Depois do almoço era tempo de trabalho comunitário, limpar casas de banho foi o que sempre calhou ao meu grupo de trabalho. Os miúdos diziam que em casa eram incapazes de fazer isto, mas em Taizé faziam isso em casas de banho que eram usadas por outras pessoas. Limpavam o que outros sujavam. Esta é a magia de Taizé.



A oração da noite era seguida de um momento mais lúdico no OYAK. Danças, guitarras, malabaristas, tudo serve para animar em Taizé.



Uma semana em que a paz começa a tomar conta de nós, em que realmente nos começamos a identificar com Cristo presente em todos aqueles que peregrinam e buscam o rosto do Pai. A proximidade de um Deus que é todo Ele amor, é possivel, é uma realidade que pode ser atingida e tocada por todos.


Quando se começa a "descer a montanha", a emoção toma conta de nós, mas é necesário voltar ao mundo, levar essa água que jorra em nós, pelo acolhimento do Cristo Ressuscitado e da sua luz que vem iluminar as nossas trevas. É nosso dever levar a primavera que se vive eternamente naquela colina para os outonos e invernos das nossas sociedades, cidades e comunidades. Ser egoísta ao ponto de não partilhar ou testemunhar o encontro com Cristo Ressuscitado, de certa forma, negar a sua fé. Ser testemunha num mundo em mudança é a nossa missão.



João Paulo II dizia que: passasse por Taizé como quem passa pela fonte. É bom estar num local refrescante e verde, saciar a nossa sede alimentar as nossas forças, restaurar as nossas energias para que possamos ser verdadeiras testemunhas e partir, ser missionários e missionárias deste amor que Deus nutre por cada um e cada uma.