Jogo de Palavras

"No principio era o logos..."

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Trabalho de Seminário de Paul Ricoeur

Hoje apresentei o meu trabalho de seminário, menos um trabalho…A base para o meu trabalho era o ensaio 3 do Livro Teoria da Interpretação de Paul Ricoeur. Deixo aqui para o caso de alguém precisar para trabalhar também. Este texto fui eu que fiz pois não encontrei nada já feito...


Metáfora e Símbolo

Introdução

Com este ensaio, Paul Ricoeur propõe-se a olhar o funcionamento da significação das obras da literatura opondo às obras científicas. A questão é se o excesso de sentido, característica das obras literárias, é uma parte da significação ou se deve a um factor simplesmente emocional.
Paul Ricoeur considera a Metáfora como a pedra de toque do valor cognitivo das obras literárias. Ao incorporar o excesso de sentido das metáforas no domínio da semântica, consegue-se então dar à teoria da significação verbal a sua maior extensão possível.

Mas é a significação verbal toda a significação? Paul Ricoeur responde na Simbólica do Mal e da Interpretação que a hermenêutica é um objecto que parecia ser tão amplo e preciso, ou seja, o símbolo.

Símbolo é definido mediante a sua estrutura semântica de duplo sentido. No interior do símbolo há algo de não semântico e de semântico.

A melhor hipótese seria abordar o símbolo em termos de uma estrutura de duplo sentido, que não é uma estrutura puramente semântica, é o que acontece com a metáfora. A Teoria da Metáfora serve de análise preparatória à teoria do símbolo, por sua vez a Teoria do Símbolo leva a que a teoria da significação se estenda. (1)

A metáfora e o símbolo vão demarcar o campo da extensão para a teoria da interpretação. (1)

Teoria da Metáfora

Monroe Beardsley mostra-nos a metáfora como “um poema em miniatura”.

Ao relacionar o sentido literal e figurativo de uma metáfora como uma relação interna à significação geral da metáfora, obtém-se um modelo para uma definição puramente semântica da literatura que se aplica a cada uma das três classes essenciais: poesia, ensaio (2) e ficção em prosa. O que o poema enuncia relaciona-se com o que sugere. A literatura é o uso do discurso em que várias coisas se especificam ao mesmo tempo.

A teoria da metáfora já vem dos retóricos, mas não poderia funcionar sem que se deslocasse o problema da metáfora da semântica da palavra para a semântica da frase.

Na retórica tradicional, a metáfora é classificada como um tropo[H1] .
Na Poética de Aristóteles lemos que uma metáfora é a “aplicação a uma coisa de um nome que pertence a outra, e a transferência tem lugar do género para a espécie, da espécie para o género, da espécie para espécie ou proporcionalmente”. A comparação é uma forma ampliada da metáfora.
Estratégias da Retórica:
As palavras devem ser tomadas isoladamente umas das outras. Os antigos retóricos defendiam que a figura de estilo era importante para colmatar uma lacuna semântica do léxico ou ornamentar o discurso para o tornar mais agradável, porque as nossas palavras por elas mesmas não podiam descrever o que muitas vezes vimos daí a importância de alargar as significações que temos.
Quando existe uma palavra para expressar o que se pretende, pode-se na mesma usar uma palavra figurativa para agradar o nosso auditório. PERSUASÃO.


A metáfora tem a ver com a semântica da frase, antes de dizer respeito à semântica de uma palavra. É um fenómeno de predicação e não de denominação pois só faz sentido numa enunciação.

Ex: “anjo azul”, “manto de tristeza”, “negro vulto”, “véu de pureza”…

Aqui põe em tensão dois termos que, segundo Richards, podemos chamar o teor e o veículo, só este conjunto constitui a metáfora. Assim, a metáfora é o resultado da tensão entre dois termos numa enunciação metafórica.

Como pode a tristeza ser um manto se um manto é feito de tecido…assim uma metáfora não existe em si mesma, mas numa e por uma interpretação.

Metáfora morta – expressões como por exemplo “o pé de uma mesa”.
Metáfora viva – são metáforas de invenção.

Da Metáfora ao Símbolo

O estudo dos símbolos tem duas dificuldades que dificultam compreender a sua estrutura de duplo sentido.

Paul Ricoeur explora três campos de investigação aos quais pertencem os símbolos:
Psicanálise ocupa-se dos sonhos e outros sintomas e objectos culturais na ordem de conflitos psíquicos profundos.
Poética entende os símbolos como imagens privilegiadas de um poema, obras de um autor ou escola literária.
Historia das Religiões – Mircea Eliade reconhece entidades concretas, por exemplo, árvores, labirintos, escadas, montanhas, como símbolos que são representados no espaço e no tempo, da transcendência e que apontam para algo de totalmente outro que neles se manifesta.

2. O conceito de símbolo reúne duas dimensões, dois universos de discurso, um de ordem linguística e outro de ordem não linguística. (3) O carácter linguístico dos símbolos é atestado pela teoria que explicaria a sua estrutura em termos de sentido ou significação. Sendo assim pode-se falar em duplo sentido do símbolo.

Um símbolo refere sempre o seu elemento linguístico a alguma coisa mais.
A psicanálise associa os seus símbolos a conflitos psíquicos ocultos.
O crítico literário refere-os a algo como uma visão do mundo ou um desejo de transformar a linguagem em literatura.
O historiador das religiões vê nos seus símbolos o meio das manifestações do sagrado ou o que Eliade chama hierofanias (manifestações sagradas).

Os símbolos são entendidos á luz da teoria da metáfora em três passos: (4)

· Identificar o cerne semântico do símbolo;
· Isolar o estrato não linguístico dos símbolos;
· A nova compreensão dos símbolos suscitara, futuros desenvolvimentos na teoria da metáfora.
A teoria dos símbolos permite-nos completar a teoria da metáfora.

O Momento Semântico de um Símbolo
O símbolo só suscita pensamento se, primeiro suscitar a fala. A metáfora é a responsável por trazer à luz o aspecto dos símbolos que têm uma afinidade com a linguagem.

O Momento não Semântico de um Símbolo

Só se chama semânticos aos traços dos símbolos que:
1) São analisados em termos de significação e interpretação e,

2) Que coincidem com os traços correspondentes das metáforas.

Teríamos nós símbolos religiosos se o homem não tivesse um comportamento próprio de quem invoca, implora ou repele as forças sobrenaturais que habitam nas profundezas da existência humana, transcendendo-a e dominando-a? De diversas maneiras a actividade simbólica carece de autonomia.

O simbolismo sagrado está radicado num discurso de ordem não semântica. (Rudolf Otto no livro A Ideia do Sagrado, realçou a manifestação do sagrado como poder, força e eficácia.)
O mito e o ritual mostram a dimensão não linguística do Sagrado. O homem religioso no mundo cria laços com o Universo Sagrado ao nível dos elementos do mundo natural como o céu, a terra, o ar e a água. Dentro do universo sagrado, a vida invade tudo como se vê cada ano no regresso á vida da vegetação, na alternância do nascimento e da morte, no movimento dos astros…É neste sentido que os símbolos estão ligados no interior do universo sagrado. O símbolo só é falado se os elementos do mundo se deixarem falar.
A metáfora é uma invenção livre do discurso; o símbolo está ligado ao cosmos.
No universo sagrado, a capacidade de falar funda-se na capacidade que o cosmos tem de significar.
A lei do universo sagrado é a lei das correspondências entre a criação in illo tempore e a ordem presente das manifestações naturais e actividades humanas.
Ex: Associação de templo a algum modelo celestial; a hierogamia (casamento sagrado) da terra e do céu corresponde à união entre homem e mulher.
Uma correspondência entre o solo arável e o órgão feminino; entre a fecundidade da terra e o ventre materno; entre o sémen e as sementes; a sepultura e a sementeira dos cereais; o nascimento e o retorno da primavera…Esta lógica das correspondências religa o discurso no universo do Sagrado.
O carácter sagrado da natureza revela-se no seu dizer-se simbólico. A revelação fundamenta o dizer, e não inversamente.






[H1]Simples substituição de uma palavra por outra.