Jogo de Palavras

"No principio era o logos..."

terça-feira, outubro 20, 2009

"Caim"

Domingo, depois de um dia passado no "Douro Sublimado", e como Penafiel ficava no caminho de regresso à "Inbicta", ressolvi parar para a apresentação do novo livro de Saramago... Pensava eu, divertido, enquanto o ouvia: - É da boca do povo que nos chegam as maiores e assertivas afirmações, uma em particular "cada macaco no seu galho", que é como quem diz "não se deve meter a foice em seara alheia" palavras para quê? "Para bom entendedor meia palavra basta...

Como pode alguém que se diz ateu e marxista falar sobre temas que não conhece? Fala da Bíblia como “um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana”? Realmente diverti-me um pouco ao ouvir tamanhos disparates sobre um dos livros mais importantes do mundo. Um conjunto de 76 livros que contam a história e a experiência de um povo, podendo ser interpretado apenas com uma leitura simbólica e tendo em conta os diferentes géneros literários.

Portanto, deixemos para os exegetas o estudo da Bíblia ou então que investiguem melhor antes de se debroçarem em áreas desconhecidas

quinta-feira, agosto 06, 2009

Divino Salvador



O Salmo 118, 8 é o centro da Bíblia. E o que podemos nós encontrar no centro da Bíblia? Deus! Diz o Salmo: “É melhor confiar no SENHOR do que fiar-se nos homens”. Deus está no centro de tudo, no centro da nossa vida, é para Ele que tudo concorre e d’Ele que tudo discorre. “Fizeste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em Ti” (cf. Santo Agostinho, Confissões I, 1, 1). Hoje, o mundo esquece Deus e endeusa tudo e todos. Tudo é motivo de adoração e veneração. Vive-se para os bens materiais e supérfluos, para o prazer descartável, para o dinheiro. E Deus? Aquele que deveria estar no centro da nossa vida, já nem sequer tem lugar para fazer caminho com a humanidade.

Estarei a ser exagerado? Talvez, mas não muito. Fala-se num retorno à religiosidade, ao espiritual, ao sagrado. Mas não se fala no reconhecimento de Deus Pai que nos ama de tal forma que enviou o Seu Filho. Um Deus que continua presente entre nós inspirando e suspirando o Seu próprio Espírito animador. Um Deus que fez com que o Verbo se fizesse carne, para ser o nosso modelo de santidade: “Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim” (Mt. 11, 29). “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim” (Jo. 14,6). E o Pai, na montanha da Transfiguração, ordena: “Escutai-O” (Mc. 9,7). O Verbo fez-Se carne para nos tornar “participantes da natureza divina” (2Pe. 1,4).

“Ele, que era de condição divina, não Se valeu da Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio, assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de Cruz” (Fil. 2,5-8).

É este o caminho apontado a todos nós, que façamos a experiência do “Servo de Yhwh”. Que analogamente “nos baixemos” à condição mais baixa, conhecer os pobres e fracos, os injustiçados e renegados e fazer-lhes chegar a luz do Tabor, a luz da Pascoa, Jesus Cristo que é “Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado e não criado, consubstancial ao Pai”.

Hoje, dia da Solenidade da Transfiguração de Jesus, a nossa paróquia está em festa, celebra o dia do seu padroeiro – Divino Salvador. Aquele que fazendo sempre a vontade do Pai, deu-nos a conhecer o Pai e leva-nos ao Pai.

A transfiguração é uma experiência que ilumina a sua morte e conduz os discípulos em direcção à maturidade da fé. Jesus aparece como um ser celeste (as vestes brancas e resplandecentes são imagem do mundo divino, sinal da alegria e da vitória). A conversa de Jesus com Elias e Moisés, revela que Jesus é o enviado definitivo, a revelação final do Pai.

A voz da nuvem revela aos discípulos a identidade de Jesus, mas também ecoa ainda hoje em toda a humanidade, ensinando o caminho certo, a atitude certa “Escutai-O”.
Anúncio da Páscoa, a Transfiguração encerra também uma promessa – a da nossa transfiguração. Jesus, com efeito, fez transparecer na Sua Humanidade a glória de que resplandecerá o seu Corpo Místico, a Igreja, na Sua vinda final. A luz do Tabor é uma antecipação do esplendor, que encherá a noite da Páscoa.

A nossa vida cristã é, pois, um processo de lenta transformação em Cristo. Iniciado no nosso Baptismo, completa-se na Eucaristia, «penhor da futura glória», que opera a nossa transformação, até atingirmos a imagem de Cristo glorioso.

domingo, agosto 02, 2009

O Astrónomo e a Brisa da Noite

A Criação

“Eu sei que Tu estás aí!” - Gritou de novo o astrónomo, sozinho, no meio da noite. O frio entrava-lhe pelas mangas, o pescoço doía-lhe de tanto olhar para o céu. “Deus, eu sei que Tu estás aí. Dá-me um sinal da Tua presença”. Mas mais uma vez ninguém respondeu.
- Sei que Tu estás aí, Deus Antigo, Deus Imenso - sussurrou o astrónomo. Sei que Te moves devagarinho enquanto as estrelas avançam, lentamente, pela noite. Sei que estendes os Teus braços por milhões de anos-luz até às galáxias distantes. Sei que és muito grande e que brincas com Saturno quando o escondes no horizonte. Sei que no Teu jardim plantas constelações feitas de estrelas. Sei da lágrima que choras em cada estrela cadente. Sei que Tu és Antigo, mais Antigo que a própria Terra. Mais Antigo que esta terra que piso e em que um dia hei-de morrer. Eu sei, mas dá-me um sinal da Tua presença.
Esperou. Mas mais uma vez ninguém respondeu. Durante cem noites o astrónomo subira a esta colina. Durante cem noites esperara ansiosamente um sinal, um sinal por mais pequeno que fosse de que estava certo e de que os seus colegas estavam errados. De que ele estava certo quando dizia haver um Deus maior que tudo. Que eles estavam errados quando diziam que era tudo fantasia sua. Que ele estava certo quando dizia que havia um Criador. Que eles estavam errados quando lhe respondiam com fórmulas matemáticas e com teorias de uma explosão inicial que tudo explicaria. E quando se riam na sua cara. E quando o tratavam como cientista de segunda. Agora, pela última vez, voltava-se para cima e pedia um sinal. Nem pedia um sinal para eles. Pedia apenas um sinal para si, um sinal que lhe permitisse dormir em paz, apesar das gargalhadas dos outros. Mas passaram-se cem dias e cem noites e o sinal não veio. Desistiu. Abandonou-se à brisa, a mesma brisa suave e fria que soprava desde a primeira noite e que tantas vezes o irritara por não o deixar concentrar-se.
- Olá -disse uma voz jovem e descontraída.
Boa noite. - Disse o astrónomo surpreendido. - Não te vi. Como chegaste aqui sem que te sentisse? Perdeste alguma ovelha?
- Estava a ver é que te perdia a ti. -Respondeu a voz, a sorrir. -Cem vezes pediste um sinal. Cem vezes te toquei com a minha brisa. Creio que hoje te preparavas para não voltar. - Senhor, Meu Deus! Sois Vós? O Altíssimo? O Deus Antigo? O Deus Imenso? - Bem, se me preferes chamar assim...
- Senhor, Altíssimo, Tu não devias estar lá em cima nos céus? Não é lá que Tu moras? O que estás a fazer aqui?
- Onde eu moro não brilham estrelas, a não ser quando o coração de algum homem se converte ao amor. Nem há constelações, a não ser quando dois ou mais se reúnem em Meu nome. Moro onde tu moras. Compreendes?
-Tu moras onde eu moro?! Eu moro numa casa tão pequena e Tu és tão grande!
- Só é grande quem de encaixa no pequeno por amor.
- Sempre pensei que moravas no céu e que por isso o céu era tão grande. Sabes, às vezes ficava horas e horas sem fim a olhar a imensidão das estrelas e a pensar em Ti. - Eu sei. Eu vi-te quando te comoveste, encostado à figueira, a olhar o céu. Fiquei com vontade de te contar tudo, sobretudo de te dizer isto: O universo não é a minha casa. É a tua. É a casa que Eu criei para ti e para todos os homens. Sabes, às vezes os pais montam casas para os filhos...
- Mas então porque é tão grande o universo? A nós chegavam-nos umas quantas montanhas e outras tantas planícies...
-Sim, se calhar tens razão. Talvez tenha exagerado. Sabes como é, uma pessoa quando é Deus pensa nos homens e entusiasma-se... Pegamos em papel e lápis e desenhamos o Sol e a Terra, um à frente do outro. “Terão a Terra para habitar e o Sol para os aquecer”, pensamos. Fica bem, mas ainda está tudo muito parado. Pensamos então em pôr a Terra a rodar à volta do Sol para haver anos e darem pelo tempo passar. E pomo-la a rodar sobre si mesma para haver dias e noites e poderem recomeçar a vida de novo cada manhã. E já agora inclinamos um pouco o eixo para poder haver estações, e sementeiras e colheitas no tempo certo, e festas. A Terra até fica bem assim -um belo planeta para os homens! - e resolvemos então pôr mais planetas à volta do Sol. Todos diferentes, uns maiores, outros mais pequenos, um com anéis, outro com satélites. Quando damos por ela já vai em nove e resolvemos que chega. De facto de dia chega, mas de noite achamos tudo bastante escuro. Os homens, de noite, morrerão de tédio, pensamos. Começamos então a desenhar estrelas e mais estrelas. Primeiro uma pessoa pensa em pô-las todas alinhadas. Depois começa-se a desarrumar tudo e a fazer constelações. Será bem mais divertido para os homens olhar um céu assim... Começamos com uma constelação, e já agora outra ali mais ao lado, e quando damos por ela já vamos em milhões de galáxias a milhões de milhões de anos-luz. E já agora umas nebulosas, e já agora uns cometas de vez em quando para que fique tudo mais emocionante, e já agora a Lua, para que o mar tenha marés-cheias e marés vazias e eles tenham semanas e ao sábado se possam apaixonar.
-Tenho uma pergunta, Senhor. É uma pergunta um pouco embaraçosa. Os meus colegas dizem que Tu não criaste nada. Que tudo aconteceu numa grande explosão, há muitos milhões de milhões de milhões de anos.
- Bem, imagina que Eu decidi criar através de uma explosão...? Não posso criar da maneira que achar melhor? Também as árvores nascem devagarinho das sementes, isso eles entendem. Entendem que a árvore já lá está toda naquela semente pequena que o tempo irá regar. Eu é que não entendo os teus colegas. Se houve uma explosão, alguma coisa tinha de existir primeiro para que depois houvesse explosão, não é? Os homens, quando descobrem as leis do universo, sentem-se tão contentes que se esquecem de que para haver leis foi preciso que eu inventasse essas leis. Esquecem-se de que para que alguém possa descobrir, alguém antes teve de criar.
- Desculpa-me o atrevimento, Senhor, de Te fazer tantas perguntas, agora que Te tenho aqui à mão... Mas então a Bíblia? Não diz que Tu fizeste tudo em sete dias? Eles dizem que um universo assim nem em sete milhões de anos.
- Os homens esqueceram a poesia. E sem poesia não entendem quando Eu falo. Esqueceram que sete quer dizer plenitude. A plenitude do Meu amor. É isso. É só isso que precisam de saber, para depois poderem olhar pelos telescópios e não se perderem. A Bíblia não diz como criei, diz que criei tudo para vocês, por amor. E explica como é que podem usar de tudo com amor e serem felizes. A Bíblia não é um manual de fabrico, é uma espécie de manual de instruções, percebes?
- Mas então Tu não te importas que nós olhemos o céu com telescópios? E que depois vamos para casa fazer contas e escrever livros de ciência? E depois, se calhar, que nos metamos numas naves para ir ver mais de perto...
- Quero que amem a casa que vos dei. Quero que a contemplem e conheçam. Há nela recantos que ainda nem sonham que existem. Quero que usem a inteligência que vos dei e que os vossos filhos saibam mais que vocês, e que os filhos deles saibam mais que eles. Só tenho pena é que ainda saibam tão pouco.
- Não são segredos a mais? Por que é que não dizes logo tudo de uma vez? Poupavas-nos tanto tempo!
- Sim, Eu podia dizer tudo de uma vez. Podia até escrever uma legenda no céu com letras de raios laser a dizer que o autor sou Eu e que escusassem de pensar mais. Poupava-vos muito trabalho e conseguiria que todos me adorassem. Mas tirava-vos a liberdade e sem liberdade não há amor. Prefiro que me descubram pelo amor. Detestaria que me adorassem à força. Percebes isto?
- Mas, Senhor, assim há sempre quem se esqueça de Ti.
Como é que Tu, sendo tão grande, Te sujeitas a isso?
- Maior grandeza é não se impor. Amar somente, escondido no brilho dos astros, na escuridão da noite, no soprar da brisa. Chamar sem forçar. Falar ao coração daquele que olha o universo, como quem sussurra, e esperar que me deseje. Como tu, nestes cem dias, nestas cem noites em que me abriste o teu coração e eu te desejei e tu me desejaste até quase não poderes mais.
“Deixei-Te até quase não poder mais”, concordou o astrónomo, no cimo da colina. Quando abriu os olhos não viu ninguém. Sentiu apenas a brisa da noite que lhe tocava a cara. Mas agora já não tinha frio.

“O Príncipe e a Lavadeira” (Pe. Nuno Tovar Lemos SJ.)

sábado, julho 25, 2009

Festa de S. Tiago



O nome Santiago é tradução de Iákobos, uma tradução grega do nome do célebre patriarca Jacob.

Os evangelhos narram como São Tiago Maior, irmão de João, foi um dos três discípulos que tiveram o privilégio de assistir a transfiguração de Jesus. Também acompanhou Jesus durante a sua agonia no horto do Getsemani.
São Tiago foi o primeiro apóstolo a ser martirizado, segundo narra São Lucas nos Actos dos Apóstolos.

O Papa Bento XVI na audiência de 21 de julho de 2006 assegurou que São Tiago Maior tem muito a ensinar aos homens de hoje: “a prontidão para acolher o chamado do Senhor inclusive quando nos pede que deixemos a “barca” de nossas seguranças humanas, o entusiasmo ao segui-lo pelos caminhos que ele nos assinala mais além de nossa presunção ilusória, a disponibilidade para dar testemunho dele com coragem, se fosse necessário até o sacrifício supremo da vida”.

Segundo a tradição, os restos de São Tiago, morto na Palestina no início dos anos 40 D.C. pelo rei Herodes Agripa, foram imediatamente levados para a Espanha onde, ao que parece, havia realizado a sua missão evangelizadora.

O seu túmulo foi descoberto num bosque no ano 800 por um ermitão chamado Pelayo, num lugar denominado Campus Stella, de onde deriva o nome Compostela.

Alguns estudos arqueológicos realizados durante o século XX descobriram um mausoléu dentro de uma necrópole cristã, romana e germânica, entre os séculos I e VII. Estes dados encaixaram com a tradição da descoberta do túmulo do apóstolo. Ali se construiu a primeira igreja dedicada em sua honra que dá lugar à actual catedral.
Entre os séculos X e XI aconteceu o apogeu das peregrinações a Santiago de Compostela por diferentes caminhos: o mais conhecido é o francês o qual chega a Espanha através dos caminhos de Roncesvalles e Jaca e logo passa por terras de Navarra, Aragón, La Rioja, Castilla e León para atravessar a Galícia e chegar a Santiago.

Nas rotas foram sendo construídos albergues e hospitais para os peregrinos. O caminho de Santiago serviu como meio para propagar diferentes correntes artísticas, econômicas e culturais como os estilos romântico e gótico na arquitetura.
Em 1989 foi realizado ali a Jornada Mundial da Juventude, na qual participou o Papa João Paulo II, e em 1993 foi o grande “boom” das peregrinações por ocasião desse “ano jacobeo”, ano também em que a UNESCO o declarou patrimônio da humanidade.

Fonte: Zenit

sexta-feira, julho 24, 2009

Apontamentos de uma peregrinação

Partimos cedo de Valença com destino a Porriño, onde passamos a noite. Depois de uma etapa cumprida, as primeiras bolhas começaram a aparecer nos miúdos. O dia termina com a partilha de expectativ1as para o caminho, apresentação dos alunos e professores dos Colégios Amor de Deus, de Cascais, e Nossa Senhora de Lourdes, do Porto e com a oração da noite.

Os dias sucediam-se com o mesmo ritmo e dinâmica. Cada etapa que fazíamos, tinha em média de 20 km. O caminho, o cansaço, a entreajuda, a fraternidade, reflexão de um tema, a partilha e oração, dinamizavam cada dia.

Ao longo do caminho íamos passando pelos outros (num grupo de 72 é normal haver diferentes ritmos de caminhada), sempre com um sorriso e uma palmadinha nas costas.
A paisagem levava à contemplação, imaginei os milhares de passos que peregrinaram, que calcorrearam aqueles caminhos, as suas preocupações, motivações e alegrias. Caminhos que nos levam ao túmulo do Apóstolo Santiago.

Seguindo as setas e as vieiras íamos cortando ruas, campos e caminhos, encontrávamos rostos, anónimos a sorrir. Um caminho, por vezes tortuoso, com altos e baixos, subidas íngremes, irregular, mas também fresco, ladeado por carvalhos centenários e riachos que se encontravam por vezes com o caminho.

O último dia, em Padron, foi de chuva. Choveu a noite toda e ao acordar continuava a chover. Foi declarado alerta amarelo pela protecção civil, dada a intensidade das chuvas. Nada nos deteve, mesmo assim partimos animados até Santiago de Compostela. As bolhas nos pés, o cansaço acumulado, o banho de água fria, dormir no chão de um ginásio das localidades que nos foram acolhendo, não foi impedimento, logo, não ia ser a chuva impedimento para os últimos 20 km. Quase 4 horas a caminhar sem parar, o sacrifício redobrado mas compensado quando ao fundo se avistou a catedral. Um novo ânimo revigorou as nossas forças, retemperou o nosso corpo gélido pela chuva que teimosamente nos acompanhou.

Chegar a Santiago, mais do que o sentido de objectivo cumprido, é olhar para trás e reparar nas pequenas mudanças que o caminho imprime em nós. É claro que o objectivo era chegar a Santiago, mas mais do que isso. Fazer o caminho por fazer, torna-se vazio. Fazer o caminho com propósitos firmes, abandonado ao dia-a-dia, aprendendo com tudo e todos, são factores que de facto transformam um pouco do que nós somos.
O caminho que fizemos, marcado num mapa, ou mesmo por GPS, seguindo as setas amarelas e as vieiras, não é o mesmo caminho que fazemos interiormente, uma história pessoal, onde acontece o encontro com o Outro e que dá lugar a um renascimento.

Aprendiz de viajante




APRENDIZ DE VIAJANTE

Tive um sonho e quando acordei
Viajei no tempo e desejei

Entregar-Te a vida
Estender a taça toda a transbordar
Cantei…

E mais além
Subindo estrelas no céu
Descendo ao fundo da terra
Só contigo eu vou
Embalado nos Teus passos vou
Abandonado em Teus abraços sou
Aprendiz de viajante e até
Me perco em Ti

Deixei-te à porta mas quando voltei
Vi que esperavas e desejei
Entregar-Te a vida…

Tentei atalhos em que me afastei
Mas Tu chamaste e eu desejei
Entregar-Te a vida…

E se algum dia eu me afastar de Ti
E se algum dia eu me esquecer de nós
Vem procurar-me onde eu estiver
Não penses que eu sei ser sem Ti
Sou apenas um aprendiz de viajante!
Sou apenas um aprendiz de viajante!

quinta-feira, julho 16, 2009

quarta-feira, julho 15, 2009

A caminho...

A tradição do Caminho de Santiago como uma das maiores rotas de peregrinação do Ocidente, desde a Idade Média, está cada dia mais viva. Ao longo das centenas de quilómetros de Caminho que cortam toda a Europa até chegar em Santiago de Compostela, o peregrino moderno se depara com paisagens fantásticas, obras medievais como castelos, mosteiros, catedrais góticas, românicas, cidades amuralhadas e até mesmo antiquíssimas aldeias celtas. O Caminho de Santiago foi declarado Conjunto Histórico Artístico em 1962 e a cidade de Santiago de Compostela foi reconhecida pela UNESCO como "Património da Humanidade" em 1992.
Segundo a tradição, o apóstolo Tiago (filho de Zebedeo e Salomé), após a crucificação de Jesus Cristo, passou seis anos pregando na região da Espanha. Retornou à Palestina e lá foi decapitado, a mando de Herodes, no ano 44. Centenas de anos mais tarde, provavelmente em 813, o bispo da região da Galícia, Teodomiro, foi informado da ocorrência de um milagre, nos campos da Via Ária (actual região galega). Segundo os relatos, uma estrela fixa iluminava o local do sepulcro. O bispo mandou investigar e, após as escavações, foi descoberto o jazigo com o nome do Apóstolo Tiago. Tiago "Maior", como era conhecido, transformou-se num "símbolo vivo" da resistência cristã aos ataques muçulmanos no território espanhol.
O "Campus Stellae", que inspirou Compostela, foi imediatamente resguardado pela Igreja Católica. A mando do rei Afonso II, o "Casto", foi construído um pequeno templo para a protecção da tumba apostólica. Porém, em 997, o templo foi incendiado pelos muçulmanos. Desta vez, o rei Afonso III ergueu um novo templo, muito maior do que a capela de pedras construída no reinado de Afonso II.Santiago, então, consolidou-se como um dos três centros de peregrinação cristã na Europa, junto com Jerusalém e Roma.Por todos esses séculos, a Catedral de Santiago de Compostela passou por uma série de ampliações arquitectónicas. O primeiro registro oficial sobre os caminhos dos peregrinos compostelanos data de 1131. Naquele ano, sob encomenda do Papa Calixto II, o sacerdote francês Aymeric Picaud escreveu o primeiro guia de acesso a Santiago. O "Códice Calixtini" (ou "Liber Sancti Jacobi") foi a primeira publicação a ratificar o Caminho a Compostela e descrever todos os passos do trajecto "iniciático" à cidade santa.
Até para a semana...