Jogo de Palavras

"No principio era o logos..."

domingo, junho 25, 2006

Tal como eu...



Naquele dia, ao cair da tarde,
Jesus disse aos seus discípulos:
«Passemos à outra margem do lago».
Eles deixaram a multidão
e levaram Jesus consigo na barca em que estava sentado.
Iam com Ele outras embarcações.
Levantou-se então uma grande tormenta
e as ondas eram tão altas que enchiam a barca de água.
Jesus, à popa, dormia com a cabeça numa almofada.
Eles acordaram-n’O e disseram:
«Mestre, não Te importas que pereçamos?»
Jesus levantou-Se,
falou ao vento imperiosamente e disse ao mar:
«Cala-te e está quieto».
O vento cessou e fez-se grande bonança.
Depois disse aos discípulos:
«Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?»
Eles ficaram cheios de temor e diziam uns para os outros:
«Quem é este homem,
que até o vento e o mar Lhe obedecem?»
(Marcos 4,35-41)



Situar o barco com Jesus e os discípulos “no mar”, é colocá-los num ambiente hostil, adverso, perigoso, caótico, rodeados pelas forças que lutam contra Deus e contra a felicidade do homem. Por outro lado, a “noite” é o tempo das trevas, da falta de luz; aparece como elemento ligado com o medo, com o desânimo, com a falta de perspectivas. O “mar” e a “noite” definem uma realidade de dificuldade, de hostilidade, de incompreensão.

Durante a travessia, Jesus “dorme”. O “sono” de Jesus durante a viagem refere-se, possivelmente, à sua aparente ausência ao longo da “viagem” que a comunidade cristã faz pela história. Com frequência os discípulos, ocupados em dirigir o “barco”, têm a sensação de que estão sós, abandonados à sua sorte e que Jesus não está com eles a enfrentar as vicissitudes da viagem. Na verdade, Jesus está com eles no “barco”; Ele prometeu ficar com eles “até ao fim do mundo”.

A “tempestade” refere-se a todos os momentos de crise, de perseguição, de hostilidade que os discípulos terão de enfrentar ao longo do seu caminho histórico, até ao fim dos tempos.

Jesus, despertado pelos discípulos, acalma a fúria do mar e do vento, com a sua Palavra imperiosa e dominadora. Na teologia judaica, só Deus era capaz de dominar o mar e as forças hostis que se albergavam no mar. Jesus aparece assim, como o Deus que acompanha a difícil caminhada dos discípulos pelo mundo e que cuida deles no meio das dificuldades e da hostilidade do mundo.

À interpelação de Jesus aos seus discípulos "porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?", pensei em cada um de nós, em mim, em como nós somos tão fragéis e quando uma tempestade nos assalta o espírito, nós também declinamos e perguntamos onde está este Deus... Mas logo de seguida lembrei-me de um texto do livro X das Confissões de Santo Agostinho em que ele diz: "Tarde eu Te amei, Beleza tão antiga e tão nova! Tarde eu Te amei... Tu estavas dentro de mim, e eu Te procurava fora, onde me precipitava sobre as belas coisas da terra, tuas obras. Tu estavas comigo, e eu não estava contigo, mantido longe de Ti por aquelas criaturas, que, se não estivessem contigo, não existiriam. Tu estavas dentro de mim, e eu estava fora. Tu chamaste, gritaste e rompeste a minha surdez."

3 Comments:

  • At domingo, junho 25, 2006 6:12:00 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Palavras profundas!
    Não te esqueças que Ele nunca nos deixa sós no barco que "juntos" transportamos! Bem-hajas Nunito!

     
  • At domingo, junho 25, 2006 6:44:00 da tarde, Blogger P.e Júlio da Costa Gomes said…

    Grande reflexão sobre a Palavra deste Domingo! Continua a caminhada sem ter medo da tempestade. Em todo o tempo e lugar louva o teu Senhor. Ele está sempre connosco!

     
  • At quinta-feira, junho 29, 2006 11:02:00 da manhã, Blogger Aida Melo said…

    "Jesus levantou-Se,
    falou ao vento imperiosamente e disse ao mar:
    «Cala-te e está quieto».
    O vento cessou e fez-se grande bonança.
    Depois disse aos discípulos:
    «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?»"

    Alguém me fez notar que Jesus se levanta, depois, "acalma a fúria do mar e do vento, com a sua Palavra imperiosa e dominadora". É duro passar por tempestades como esta que aqui figura. A Palavra deste domingo deu-me esperança e foi como que um despertar para a minha fé. Mas ainda me sinto muito concentrado na fúria das ondas, no que fazer para passar no meio delas sem perecer definitivamente... peço orações para acreditar mais no Senhor que me chamou das trevas para a sua luz admirável!
    Obrigado

     

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