Jogo de Palavras

"No principio era o logos..."

quinta-feira, agosto 06, 2009

Divino Salvador



O Salmo 118, 8 é o centro da Bíblia. E o que podemos nós encontrar no centro da Bíblia? Deus! Diz o Salmo: “É melhor confiar no SENHOR do que fiar-se nos homens”. Deus está no centro de tudo, no centro da nossa vida, é para Ele que tudo concorre e d’Ele que tudo discorre. “Fizeste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em Ti” (cf. Santo Agostinho, Confissões I, 1, 1). Hoje, o mundo esquece Deus e endeusa tudo e todos. Tudo é motivo de adoração e veneração. Vive-se para os bens materiais e supérfluos, para o prazer descartável, para o dinheiro. E Deus? Aquele que deveria estar no centro da nossa vida, já nem sequer tem lugar para fazer caminho com a humanidade.

Estarei a ser exagerado? Talvez, mas não muito. Fala-se num retorno à religiosidade, ao espiritual, ao sagrado. Mas não se fala no reconhecimento de Deus Pai que nos ama de tal forma que enviou o Seu Filho. Um Deus que continua presente entre nós inspirando e suspirando o Seu próprio Espírito animador. Um Deus que fez com que o Verbo se fizesse carne, para ser o nosso modelo de santidade: “Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim” (Mt. 11, 29). “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim” (Jo. 14,6). E o Pai, na montanha da Transfiguração, ordena: “Escutai-O” (Mc. 9,7). O Verbo fez-Se carne para nos tornar “participantes da natureza divina” (2Pe. 1,4).

“Ele, que era de condição divina, não Se valeu da Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio, assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de Cruz” (Fil. 2,5-8).

É este o caminho apontado a todos nós, que façamos a experiência do “Servo de Yhwh”. Que analogamente “nos baixemos” à condição mais baixa, conhecer os pobres e fracos, os injustiçados e renegados e fazer-lhes chegar a luz do Tabor, a luz da Pascoa, Jesus Cristo que é “Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado e não criado, consubstancial ao Pai”.

Hoje, dia da Solenidade da Transfiguração de Jesus, a nossa paróquia está em festa, celebra o dia do seu padroeiro – Divino Salvador. Aquele que fazendo sempre a vontade do Pai, deu-nos a conhecer o Pai e leva-nos ao Pai.

A transfiguração é uma experiência que ilumina a sua morte e conduz os discípulos em direcção à maturidade da fé. Jesus aparece como um ser celeste (as vestes brancas e resplandecentes são imagem do mundo divino, sinal da alegria e da vitória). A conversa de Jesus com Elias e Moisés, revela que Jesus é o enviado definitivo, a revelação final do Pai.

A voz da nuvem revela aos discípulos a identidade de Jesus, mas também ecoa ainda hoje em toda a humanidade, ensinando o caminho certo, a atitude certa “Escutai-O”.
Anúncio da Páscoa, a Transfiguração encerra também uma promessa – a da nossa transfiguração. Jesus, com efeito, fez transparecer na Sua Humanidade a glória de que resplandecerá o seu Corpo Místico, a Igreja, na Sua vinda final. A luz do Tabor é uma antecipação do esplendor, que encherá a noite da Páscoa.

A nossa vida cristã é, pois, um processo de lenta transformação em Cristo. Iniciado no nosso Baptismo, completa-se na Eucaristia, «penhor da futura glória», que opera a nossa transformação, até atingirmos a imagem de Cristo glorioso.