Jogo de Palavras

"No principio era o logos..."

domingo, janeiro 01, 2006

Explosão...

Neste dia fico enjoado de tanta explosão de fogo de várias cores quando há tanta gente que não tem um pouco de cor na sua vida; ou então de mesas fartas quando tanta gente não tem um pouco de pão e um copo de vinho para se alimentarem; festas e mais festas com amigos e familías quando tanta gente anda pelas ruas das cidades a deambolar para dormir depois sozinho num banco de jardim ou numa entrada de loja embrulhado em cartões de papelão... Pois é, os media só mostram a parte da cor, da fartura e das meninas e meninos bonitos nas festinhas cor de rosa... Porém a outra realidade não pode, não deve e não tem que ser esuqecida por nada.
De várias formas se deu a passagem de ano, mas uma forma não foi comentada pela tv, porquê? Talvez por loucura de alguns milhares de jovens que se uniram e passaram o ano em oração... Sim falo do Encontro que a comunidade de Taizé animou este ano em Milão e que aconteceu ano passado em Lisboa. O facto de alguns milhares de jovens se reunirem em oração no momento de passagem de ano não é noticia porquê? Porque não tem cor, fartura e todas as etiquetas que as festas e bailes obrigam...
Quero deixar algumas das palavras do Irmão Alois (novo prior de Taizé):
"Dias após dia, a oração vai constituir um apoio. E mesmo se não conseguirmos sempre exprimir a nossa espera interior através de palavras, estar em silêncio é já a expressão de uma abertura a Deus. Durante este período do Natal, lembremo-nos que o próprio Deus veio num grande silêncio.
A nossa comunhão com Deus exprime-se por vezes através de pequenos sinais que tocam os nossos corações.
A oração não nos isola, compromete-nos. Rezar torna-nos vigilantes. Rezar convida-nos a tomarmos consciência das situações difíceis à nossa volta, mesmo quando essas situações nos parecem demasiado complexas. Há uma coragem da fé que nos leva a contribuir verdadeiramente, através da nossa vida, para a construção da paz e da justiça sobre a terra.
Deus quer que sejamos felizes! E esta felicidade, Deus deseja-a para todos os seres humanos. Por isso, cada um de nós pode procurar ajudar nem que seja uma única pessoa: uma criança abandonada, um jovem sem trabalho e sem esperança, alguém que não tem nada, uma pessoa idosa.
Cada um pode estar mais atento a aliviar as penas e os tormentos dos que estão mais próximos. Pela abertura do nosso coração, ao tornar mais feliz uma só pessoa que precise, tornamos o mundo mais humano. O Papa Bento XVI dizia recentemente: «Todos os homens pertencem a uma mesma família».
Ao começarmos assim na nossa própria vida, de modo muito humilde, muito simples, seremos levados a ir mais longe, a alargar sempre mais a solidariedade e a assumir um compromisso mais forte.
«Eis-nos colocados num caminho de esperança», escrevia o irmão Roger, quando preparava a carta para o nosso encontro. E ele lembrou-nos que não estamos sozinhos neste caminho: «Deus concede-nos avançar em direcção a uma comunhão, essa comunhão de amor que é a Igreja…»
Em Taizé, durante o próximo ano, durante os encontros de jovens que terão lugar semana após semana, procuraremos formas de caminhar em conjunto sobre um caminho de esperança.
Para nos prepararmos para transmitir qualquer coisa da consolação de Deus, importa escutarmos estas palavras tão importantes de Cristo: «Não vos deixarei sós. Vou enviar-vos o Espírito Santo, o Consolador, que estará sempre convosco.»
A carta do irmão Roger ficou por acabar. É agora, através da nossa vida, que todos nós gostaríamos de a completar. Será através da nossa vida que iremos procurar formas de responder a este chamamento do irmão Roger para «criarmos na família humana possibilidades para alargar…»
Para o irmão Roger, a urgência de viver uma reconciliação entre cristãos não era simplesmente um tema de reflexão. Era uma evidência. Para ele, o que importava antes de mais era viver o Evangelho e comunicá-lo aos outros. E só se pode viver o Evangelho em conjunto. Separados, não faz qualquer sentido.
Já quando era jovem, o irmão Roger questionava-se: como podem os cristãos falar de um Deus de amor e continuar dividos? Como podem por vezes utilizar tantas energias a justificar separações?
Procura-se sem cessar uma comunhão entre cristãos. Se esta procura for apenas colocarmo-nos uns em frente aos outros e conversar, faltará o essencial. Então, o que é o essencial?
O essencial é virarmo-nos em conjunto para Cristo, que continua vivo e sempre presente. É o que fazemos na oração comunitária, também aqui em Milão. Voltarmo-nos em conjunto para Cristo, apercebermo-nos da sua presença; poderemos fazê-lo sempre, mesmo permanecendo em silêncio. Sem reconciliação, não é possível pronunciar uma palavra que seja credível. Sem reconciliação, a mensagem de paz do Evangilho torna-se inaudível.
A reconciliação dos cristãos não é um fim em si mesma; os cristãos procuram-na para serem fermento de paz e de confiança em toda a família humana através da terra.
Deus de bondade, apesar da nossa fraqueza, no Natal tu chamas-nos a levar a paz onde houver oposições e a tornar perceptível através da nossa vida um reflexo da compaixão de Deus. Sim, tu concedes-nos que amemos e que o digamos através da nossa vida.
A morte violenta do irmão Roger foi uma grande prova para a nossa comunidade. Gostaria de agradecer a muitos de entre vós que estiveram tão próximos de nós nesta provação. Esta morte trágica continua para nós um mistério. Ao longo da sua vida, o irmão Roger colocou frequentemente a questão: porquê o sofrimento dos inocentes? E eis que ele mesmo se juntou ao número daqueles cuja morte permanece sem explicação.
Gostaria de partilhar convosco uma experiência muito pessoal que fizemos em comunidade, com os irmãos. Duas palavras da Bíblia expressam-na muito bem.
O Novo Testamento diz a propósito dos primeiros cristãos: «Eles tinham um só coração e uma só alma.» Nós podemos dizer, nós os irmãos, que esta experiência é possível. Esta unidade profunda, vivêmo-la com espanto, entre nós, nestes últimos meses. É um dom de Deus que nos enche por completo.
A segunda palavra vem no profeta Isaías. Num momento extremamente difícil da história, Isaías ouve Deus a dizer ao seu povo: «Eu vos levarei». Também nós vivemos esta experiência. Fomos como que levados por Deus nesta situação difícil.
E agora a nossa pequena comunidade é como que levada a continuar, convosco e com muitos outros, sobre o caminho que o irmão Roger nos abriu. É um caminho de confiança. E todos sabem bem que, para o irmão Roger, «confiança» era uma palavra-chave.
Esta palavra, «confiança», não era para ele uma palavra fácil. Ela contém um chamamento: acolher com simplicidade o amor que Deus tem por cada um de nós, viver desse amor e assumir os riscos que isso supõe.
Mesmo se o mundo sofre tão frequentemente por causa da violência e de conflitos, podemos lançar sobre ele um olhar de esperança.

1 Comments:

  • At domingo, janeiro 01, 2006 10:24:00 da tarde, Blogger @ said…

    Que Ele nos dê a benção de vivermos como um Só e unidos numa só Alma... Desejo que o mundo se comova na humanidade do exemplo de Cristo Jesus, no seu modo simples de amar o Outro. Gostaria eu própria de ter a capacidade de amar um pouco mais, ousando arriscar sem ter medo de sofrer.Que cada um de nós esteje mais atento ao que se passa em redor, de modo a construir um caminho que é de facto um Peregrinar de Confiança sobre a Terra. Obrigada pelas tuas reflexões!

     

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