Jogo de Palavras

"No principio era o logos..."

terça-feira, dezembro 27, 2005

Peregrinação sobre a terra

“Se conhecesses o mistério imenso do Céu
onde agora vivo, este horizonte sem fim,
esta luz que tudo reveste e penetra,
não chorarias, se me amas!
Estou já absorvido no encanto de Deus
na sua infindável beleza.”



Tiradas por Nuno Monteiro
O irmão Roger entrou na vida da eternidade, contemplando face a face como Ele é, olhando já o invisível, a verdade plena e imutável, o Verbo criador, o Amor que não pode senão amar. Durante a oração da noite, de terça-feira 16 de Agosto de 2005, da Comunidade de Taizé com as Centenas de Jovens que se reuniam na Igreja da reconciliação, uma mulher mentalmente desequilibrada atacou o irmão Roger com uma faca desferindo-lhe vários golpes. Momentos depois faleceu.
O irmão Roger nasceu a 12 de Maio de 1915 na Suiça. Desde cedo alimentava a chama da reconciliação entre cristãos “que todos sejam um, como Tu, Pai, estas em mim e eu em Ti” (Jo 17,21) e a vontade de criar uma comunidade que fosse exemplo de vida nova na Igreja de Cristo. Para isso partiu de sua terra Natal e encontrou em Taizé, em plena 2ª Guerra Mundial o espaço onde viria a começar o sonho que Deus lhe tinha destinado. Começou por abrigar judeus refugiados da guerra em sua casa e mais tarde na Páscoa de 1949 os primeiros irmãos comprometeram-se a viver aquela simplicidade de vida em comunidade. Assim começou a chamada “aurora de uma nova Primavera” como João XXIII afirmava e sim, a Primavera do ecumenismo floriu na colina de Taizé, na Igreja da Reconciliação, onde se encontraram membros de diferentes tradições cristas no respeito e no diálogo, na oração e na partilha fraterna, inspirados pela presença e pelo exemplo do irmão Roger. “Quando a Igreja escuta, cura e reconcilia, ela torna-se naquilo que é no mais luminoso de si mesma: límpido reflexo de um amor” Os Jovens começaram a chegar àquela colina nos finais dos anos 50 para descobrirem durante uma semana respostas praticas para a sua vida de cristão e aí beberem da fonte inesgotável do Evangelho. Além dos encontros semanais em Taizé, a comunidade promove também “uma peregrinação de confiança através da Terra”da qual faz parte um encontro europeu no final de cada ano onde várias dezenas de jovens se reúnem para serem convidados e responsabilizados a serem portadores de paz, reconciliação e confiança, nas suas cidades, paróquias, universidades, local de trabalho…
Porquê agora falar e lembrar o irmão Roger? Porque amanhã dia 28 de Dezembro faz um ano em que eu com alguns amigos estivemos no 27º encontro de jovens animado pela comunidade de Taizé. Foi a última vez que vi o Irmão Roger. O encontro aconteceu no fim do ano de 2004 em Lisboa e o irmão Roger esteve presente com a comunidade a animar os jovens que buscam a Cristo. Da nossa paróquia estiveram alguns jovens e testemunharam a força e o sorriso humilde e sincero do Irmão Roger.
Mas já conhecia a comuniadade pois passei a Semana Santa de 2001 em Taizé e tive a sorte de ser convidado pelo irmão Roger no final da oração
da noite de Sexta feira Santa para no dia seguinte almoçar junto da comunidade. É uma experiência que guardo para sempre no meu coração, tenho imagens dessa refeição muito presentes em mim. Essa semana ensinou-me a viver numa Igreja que por vezes se torna instotucionalizada e dogmática demais. Ensinou-me a viver com naturalidade a minha fé, aquilo em que acredito e olhar os sinais que a liturgia nos oferece como acção salvífica de Deus entre nós.
O irmão Roger era um homem contemplativo, de oração. No entanto abriu o seu coração de monge e a comunidade de Taizé aos jovens de todo o mundo, à sua procura, à sua esperança, à sua alegria e sofrimento, ao seu caminho na vida e na fé. Mais do quem um guia ou mestre espiritual, o irmão Roger foi para muitos como um pai, como reflexo do Pai eterno e da universalidade do seu amor.
“Deveríamos ouvi-lo, ouvir a partir de dentro o seu ecumenismo vivido espiritualmente e deixar-nos conduzir pelo seu testemunho de um ecumenismo interiorizado e espiritualizado…” (Bento XVI)

3 Comments:

  • At terça-feira, dezembro 27, 2005 5:36:00 da tarde, Blogger Jorge Moreira said…

    Bem Hajas por esta justa homenagem!
    É sempre uma experiência enriquecedora estar com pessoas desta Espiritualidade e partilhar momentos com outros “Irmãos” do Caminho.
    Grande Abraço.

     
  • At terça-feira, dezembro 27, 2005 6:09:00 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Isto posso comentar... Iupi :)
    Sim o Irmão Roger tocou nos de uma maneira muito especial, cada um de nós vivÊmos a experiencia de Taizé de uma maneira diferente...tb cada um de nós tem a sua própria maneira de lidar com a sua espiritualidade...
    A simplicidade do nosso rogerio era marcante e aquele sorriso k eu vi de muito perto (Obrigada nuno), aqueles olhos azuis de uma paz e de uma alegria imensa faz com o k lhe aconteceu magoe...
    Mas agora Tá em paz...e olha por nós...
    :)

    Uma oração k me marcou e ainda marca..e quase k a sei toda:
    "Jesus nossa esperança, qd em nós há fragilidades, gostariamos d acolher a tua palavra, k nos diz:"Deixo-vos a minha paz, k o vosso coração cesse de se perturbar e de temer"."

    Gostei desta tua homenagem sr padre...sim sra.. :))))

    Obrigada...
    Passa pelo meu fotolog...
    Beijão :)

     
  • At terça-feira, dezembro 27, 2005 6:37:00 da tarde, Blogger Poesia Portuguesa said…

    “Quando a Igreja escuta, cura e reconcilia, ela torna-se naquilo que é no mais luminoso de si mesma: límpido reflexo de um amor”
    Como corcordo!
    Grata por esta partilha e por esta homenagem.

    Um abraço Natalício

     

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