Jogo de Palavras

"No principio era o logos..."

segunda-feira, agosto 14, 2006

Roger de Taizé


(Tirada por Nuno M. no encontro em Lisboa)

Tudo começou numa grande solidão. Em 1940, com 25 anos, o irmão Roger deixou a sua terra natal, na Suíça, para ir viver em França, o país de sua mãe. Há já vários anos, trazia dentro de si o chamamento para criar uma comunidade onde se concretizasse todos os dias a reconciliação entre cristãos, «onde a bondade do coração fosse vivida de forma muito concreta e onde o amor fosse o coração de tudo». Ele desejava que esta comunidade estivesse presente no meio do sofrimento daqueles tempos e foi assim que, em plena 2ª guerra mundial, se estabeleceu na pequena aldeia de Taizé, na Borgonha, a alguns quilómetros da linha de demarcação que dividia a França ao meio. Começou então a esconder refugiados (principalmente judeus), que sabiam que, quando fugiam da zona ocupada, podiam encontrar refúgio em sua casa.

Mais tarde juntaram-se-lhe alguns irmãos. Foi no dia de Páscoa de 1949 que os primeiros irmãos se comprometerem para toda a vida no celibato, na vida comunitária e numa grande simplicidade de vida.

No silêncio de um longo retiro, durante o Inverno de 1952-1953, o fundador da comunidade escreveu a Regra de Taizé, onde expressava para os seus irmãos «o essencial que permitira uma vida comunitária».

A partir dos anos 50, alguns irmãos foram viver para lugares desfavorecidos para ficarem mais perto daqueles que sofrem.

Desde os finais dos anos 50, o número de jovens que vem a Taizé cresceu sensivelmente. A partir de 1962, irmãos e jovens enviados por Taizé não cessaram de ir e vir dos países da Europa de Leste, com a maior discrição, para não comprometer as pessoas que estavam a ajudar.

Entre 1962 e 1969, o próprio irmão Roger visitou a maior parte dos países da Europa de Leste, por vezes para encontros de jovens, autorizados mas muito vigiados, outras vezes para simples visitas, sem permissão para falar em público («Calar-me-ei convosco», costumava dizer aos cristãos desses países).

Foi em 1966 que as irmãs de Santo André, comunidade católica internacional fundada há mais de 7 séculos, vieram habitar para a aldeia vizinha e começaram a assumir uma parte das tarefas do acolhimento. Mais recentemente, algumas irmãs ursulinas polacas vieram também dar a sua colaboração.

A comunidade de Taizé junta hoje uma centena de irmãos, católicos e de diversas origens evangélicas, vindos de mais de 25 países. Pela sua própria existência, ela é um sinal concreto de reconciliação entre cristãos divididos e povos separados.

Num dos seus últimos livros, intitulado «Deus só pode amar», o irmão Roger descrevia deste modo a sua caminhada ecuménica:

«Poderei recordar aqui que a minha avó materna descobriu intuitivamente uma espécie de chave para a vocação ecuménica e que me abriu uma via para a concretizar? Marcado pelo testemunho da sua vida, e ainda muito jovem, encontrei a minha própria identidade de cristão ao reconciliar em mim mesmo a fé das minhas origens com o mistério da fé católica, sem ruptura de comunhão com ninguém.»

Os irmãos não aceitam doações nem ofertas. Nem sequer aceitam para si mesmos as suas próprias heranças pessoais, mas oferecem-nas aos mais pobres. É pelo seu trabalho que ganham a vida e partilham com os outros.

Existem agora pequenas fraternidades em bairros desfavorecidos da Ásia, da África e da América do Sul e do Norte. Os irmãos tentam partilhar as condições de vida daqueles que vivem à sua volta, esforçando-se por serem uma presença de amor junto dos mais pobres, dos meninos de rua, dos prisioneiros, dos moribundos, dos que ficam feridos mesmo no mais profundo de si mesmos por rupturas de afeição, pelos abandonos humanos.

Hoje, vindos do mundo inteiro, muitos jovens encontram-se em Taizé, durante todas as semanas do ano, para encontros que podem juntar de um domingo ao domingo seguinte até seis mil pessoas, representando mais de 70 países. Com os anos, centenas de milhares de jovens passaram por Taizé, meditando sobre o tema «vida interior e solidariedade humana». Nas fontes da fé, procuram descobrir um sentido para a sua vida e preparam-se para assumir responsabilidades nos lugares onde vivem.

Também homens da Igreja se deslocam a Taizé; assim, a comunidade acolheu o papa João Paulo II, três arcebispos de Cantuária, metropolitas ortodoxos, catorze bispos luteranos suecos e numerosos pastores do mundo inteiro.

Para apoiar as gerações mais jovens, a comunidade de Taizé anima uma «peregrinação de confiança através da terra». Esta peregrinação não organiza os jovens num movimento centrado na comunidade, mas estimula-os a serem portadores de paz, de reconciliação e de confiança, nas suas cidades, universidades, nos seus locais de trabalho, nas suas paróquias, e isto em comunhão com todas as gerações. Como etapa desta «peregrinação de confiança através da terra», um encontro europeu de cinco dias reúne no fim de cada ano várias dezenas de milhares de jovens numa metrópole europeia, no Leste ou no Ocidente.

Por ocasião do encontro europeu, o irmão Roger publicava todos os anos uma «carta», traduzida em mais de cinquenta línguas, retomada e meditada depois durante todo o ano pelos jovens, em suas casas ou nos encontros em Taizé. O fundador de Taizé escreveu muitas vezes esta carta a partir de um lugar pobre onde ia viver durante algum tempo (Calcutá, Chile, Haiti, Etiópia, Filipinas, África do Sul...)

Hoje, no mundo inteiro, o nome de Taizé evoca paz, reconciliação, comunhão e a espera de uma Primavera da Igreja: «Quando a Igreja escuta, cura e reconcilia, ela torna-se naquilo que é no mais luminoso de si mesma: límpido reflexo de um amor» (irmão Roger).


Faz dia 16 deste mês um ano que este sorriso encontrou o Pai. Sempre a sorrir pois sempre esteve em comunhão com o Pai. "A alma que anda no amor, nem cansa nem se cansa". Ia eu a atravessar o recinto do Santuário de Fátima, para cantar no terço e procissão de velas, quando me ligam a dizer que o irmãp Roger tinha sido assassinado.
Um grande sorriso, um grande homem, uma grande alma que agora junto do Pai contínua a interceder pelos muitos jovens sem rumo e que buscam a Deus.


Aqui fica a minha homenagem e recordação deste homem que me disse um dia que eu era especial aos olhos de Deus e que Ele teria algo de importante para mim... Cá estou eu agora a seguir o meu caminho

4 Comments:

  • At terça-feira, agosto 15, 2006 3:09:00 da tarde, Blogger Andante said…

    Também eu, nos idos de 70, fui recebida em casa do Frère Roger (desculpa continuar a mencioná-lo em francês, mas sempre assim que eu o chamei e é assim que eu o recordo). Eu todo o grupo de portugueses que aportaram a Taizé.
    O sorriso doce e fraterno ficaram para sempre gravados no meu coração.
    Recebemos, também, eu o Zé, uma benção do Frère Roger, que guardamos religiosamente.
    Foi com lágrimas de angústia e de saudade que recebi uma notícia tão funesta. Mas foi também com confiança de que, finalmente, se tenha anichado no colo do Pai que também é Mãe.
    Deve sentir-se tão bem a conversar, cara a cara, com o Pai!
    Deve estar também a descobrir mais e mais desculpas para os actos tresloucados dos seus irmãos que querem à viva força tirar o Pai das suas vidas e não conseguem, porque ele não deixa.
    Rezemos com ele e não por ele, pois como pai diligente não vai nunca esquecer tantos e tantos (milhares) jovens que se juntaram a ele e à comunidade por si fundada para rezar no silêncio, na paz, na fraternidade e no amor.
    Bem hajas, Nuno, por teres trazido hoje aquele Homem que recordamos e que muito amamos.
    BJ

     
  • At terça-feira, agosto 15, 2006 3:47:00 da tarde, Blogger um irmão. said…

    Irmão Roger
    Irmão da minha alma
    Hoje
    vou silenciar a palavra
    e deixar que ele voe livremente ao teu encontro
    escrevendo a SAUDADE...

     
  • At quarta-feira, agosto 16, 2006 9:42:00 da manhã, Blogger magnuspetrus said…

    São homens como ele que me vão dando força para continuar a seguir a minha caminhada.
    Ao ver a foto da sua campa, não pude conter uma lágrima e acredita que isso me irá marcar ao longo do dia.
    Há coisas que me revoltam imenso mas que apenas servem para me dar mais força...

     
  • At quinta-feira, agosto 17, 2006 3:57:00 da tarde, Blogger Andante said…

    Mudei de casa, Nuno.
    Procura-me na nova morada.
    Sabes muito bem porque é queão a escrevo aqui.

    Junto da Mãe, diz-lhe que existe um peregrino-andante que a ama e que a tenta imitar.

    Fala-lhe, também, do meu peregrinito que precisa de ajuda (sinto a angústia do seu futuro e, os olhos enchem-se de lágrimas).

    Bj

    Paz em cristo

     

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