Jogo de Palavras

"No principio era o logos..."

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Embora seja noite

Hoje começou na Faculdade Católica do Porto as jornadas de Teologia e o orador (D. António Marto-Bispo de Viseu) terminou a Conferência com um Hino profundo e belo de São João da Cruz (mistico Carmelita espanhol) que não pude deixar de o partilhar aqui

Bem eu sei a fonte que mana e corre,
Embora seja noite.

Aquela eterna fonte não a vê ninguém
E bem sei onde é e donde vem, Embora seja noite.

Não sei a fonte dela, que não há,
Mas sei que toda a fonte vem de lá, Embora seja noite.

Não pode haver, eu sei, coisa tão bela
E céus e terra beleza bebem dela, Embora seja noite.

Porque não pode ali o fundo achar,
Eu sei que ninguém a pode atravessar, Embora seja noite.

A claridade sua não escurece
E sei que toda a luz dela amanhece, Embora seja noite.

Tão caudalosas são suas correntes
Que regam céus, infernos e as gentes, Embora seja noite.

E desta fonte nasce uma corrente
E bem sei eu que é forte e omnipotente, Embora seja noite.

E das duas a corrente que procede
Sei que nenhuma delas a precede, Embora seja noite.

E esta eterna fonte está escondida
Em este vivo pão a dar-nos vida, Embora seja noite. .

Aqui está a chamar as criaturas
Que bebem desta água, e às escuras, Porque é de noite.

Esta viva fonte que desejo,
Em este pão de vida, aí a vejo; Embora de noite.

6 Comments:

  • At quarta-feira, fevereiro 15, 2006 6:31:00 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Sem dúvida que hoje começou mais uma jornada de muitas jornadas teológicas que hão-de acontecer para frente, importantes para a faculdade de teologia e para todos aqueles que gostam de comparecer nelas.. a conferência de hoje do nosso amigo D.Marto, bispo de viseu, sobre a beleza da eucaristia, a beleza do amor de Deus por nós e que tem a maior manifestação na crucificação de Jesus pos-me a pensar que muitas vezes estando preso à materialidade da vida esqueço-me de parar para contemplar esta Beleza incriada, pura, a mais bonita e penetrante que se deu a conhcer no seu filho e que continua a dar-se a conhecer-nos pelos outros..
    Para mim é um orgulho poder participar das jornadas, ouvir pessoas que me podem ajudar alimentar esta sede que tenho em mim de conhecer mais e melhor o infinito, Deus, o Amor e a Beleza...

     
  • At quarta-feira, fevereiro 15, 2006 8:33:00 da tarde, Blogger nahar said…

    Não compreendes o quê destes sentimentos Lusitana Paixao?

     
  • At quarta-feira, fevereiro 15, 2006 10:38:00 da tarde, Blogger Jorge Moreira said…

    S. João da Cruz foi um dos maiores místicos da Igreja católica.
    A sua linguagem é universal, de uma profundidade ímpar e com uma enorme equivalência ao pensamento Oriental do Absoluto. O pensamento nos primeiros Cristãos!
    "Embora seja noite" poderia muito bem ser um texto Hindu.
    Recomenda-se sem dúvida!
    Grande Abraço,

     
  • At quinta-feira, fevereiro 16, 2006 10:24:00 da manhã, Blogger magnuspetrus said…

    Bem sei que será difícil ires, mas fica lançado o convite para dia 26 de Março onde, na Igreja da Piedade em Santarém farei um recital de poesia religiosa, donde constará, claro está, São João da Cruz.
    É fascinante, no mínimo

     
  • At sexta-feira, fevereiro 17, 2006 10:30:00 da tarde, Blogger Cleopatra said…

    Se não levas a mal Nahar, aqui vai, para quem não conhece, ou não conhecia!

    João da Cruz
    Um místico preso no convento
    Por António Marujo

    É num contexto de tensões religiosas pela reforma da Igreja que aparece um dos grandes místicos da história católica: João da Cruz. O poeta da Noite Escura foi preso, torturado e excomungado. Alguns dos seus poucos poemas estão entre “os mais belos” da língua espanhola. Por António Marujo

    Preso, torturado pelos frades do convento onde chegou a estar detido, mais tarde excomungado, João da Cruz (1542-1591), reformador dos carmelitas, é uma das mais importantes figuras do catolicismo. Mas a sua dimensão de místico e poeta foi calejada no cativeiro de nove meses, no convento carmelita de Toledo.

    Juan de Yepes (nome de baptismo) nasce em Fontiveros (próximo de Ávila, Espanha), numa família pobre. Depois da morte do pai, a família vai para Medina del Campo, em 1551. Juan tenta, sucessivamente, aprender ofícios num orfanato e trabalhar num hospital para pobres. Acaba a estudar humanidades, entre 1559 e 1563 no colégio dos Jesuítas.

    Em 1564, Juan entra no convento de Medina del Campo dos carmelitas mitigados. A expressão designa os abrandamentos da regra que muitos carmelos tinham adoptado, à mistura com o relaxamento da fé. Títulos académicos vendidos ou oferecidos, tesourarias dos conventos reabastecidas “em parte através da exploração de ‘devoções’ populares próximas da magia” eram, entre outras, razões para que a primitiva regra já não servisse, diz Jean-Pie Lapierre (A Noite Obscura, ed. Estampa).

    Frei Juan de San Matias, o nome que adopta na vida religiosa, vai estudar para Salamanca, sendo ordenado três anos depois. É nessa ocasião, com 25 anos, que encontra pela primeira vez madre Teresa de Jesus. A futura santa Teresa d’Ávila, reformadora do carmelo, tinha já mais de 50 anos e Juan confessa-lhe a sua insatisfação com o que vivia no carmelo. O seu objectivo era, então, entrar num convento de monges cartuxos.

    O encontro muda, no entanto, o rumo da vida do frade. Teresa de Jesus vivia já com um pequeno grupo de carmelitas “descalças”, designação adoptada pelas reformadoras. Juan decide trabalhar com ela no sentido de renovar a regra carmelita. Abandona o hábito de mitigado e, em Janeiro de 1568, funda os carmelitas descalços, assinando pela primeira vez como João da Cruz.

    Os obstáculos, as acusações e os conflitos de que é vítima sucedem-se. O clima adensase. Mitigados e descalços são peões de brega da política expansionista de Filipe II. Nove anos depois, a 2 de Dezembro de 1577, frei João é preso em Ávila, por homens armados que o levam, às escondidas, para o carmelo de Toledo.

    Ali, recorda Jean-Pie Lapierre, o reformador é colocado num buraco com cerca de três metros de comprimento por dois de largura. Apenas sai para lhe darem uma refeição de pão e água, servida de joelhos, no chão. Come no meio de 80 irmãos — palavra desadequada, como se vê — que, em cada sexta-feira, lhe aplicam a disciplina (instrumento de correias que servia para a autoflagelação).

    Deste degredo, do qual quase ninguém sabe o paradeiro, João foge a 15 de Agosto de 1578. Frei João contará que foi Nossa Senhora que a isso o incitou. E, para o fazer, tem a ajuda do novo carcereiro, o irmão João de Santa Maria, que nos últimos três meses, o vinha também fornecendo de papel e tinta.

    Na fuga, João da Cruz leva consigo um caderno. Nele escrevera os seus poemas — entre os quais Cântico espiritual, a Chama de amor viva e Noite escura. E, mesmo se a poesia de frei João não ocupa mais de 40 páginas, o poeta e tradutor José Bento não tem dúvida em colocar aqueles três entre os “mais belos poemas da língua espanhola e porventura de qualquer língua”.

    A prosa e a poesia de João da Cruz inclui ainda mais de 20 cartas e oito textos (disponíveis nas Obras Completas, ed. Carmelo), três dos quais são comentários aos três poemas referidos. João da Cruz morre

    a 14 de Dezembro de 1591, aos 49 anos, depois de fundar vários carmelos reformados. Nas Outras coplas a lo Divino, escreve: “A mais forte conquista/ na escuridão se fazia.”

     
  • At sexta-feira, fevereiro 17, 2006 10:33:00 da tarde, Blogger Cleopatra said…

    Miguel, Deus está mesmo aí...

     

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