De volta

(Tirada por Nuno Monteiro)

As aulas começaram ontem, hoje num intervalo de mais de uma hora, pois não tive Direito Fundamental, desci até ao meu refúgio. Fica apenas a uns 5 minutos da Universidade. Um azul que se perde de vista e se une ao céu. Dei comigo a enterrar os pés na areia grossa e fresca pelo orvalho que caía minutos antes. As ondas fizeram-me lembrar aquilo que nós somos, ou seja, um fonte de emoções e sentimentos que acabam por vir ter à praia. Ha quem diga que morre ali a onda, mas não, ali é que está a essência de toda a sua vida-se é que podemos assim falar-ou seja, é ali na praia que ela se gasta e se dá. É para aquele propósito que ela existe e foi concebida. Assim como eu também existo para me consumir e dar-me. É na praia que tenho que morrer ou seja fundir-me com o próximo. Todos nós temos um pouco de onda e de praia pois recebemos amor e damos amor.

Ali me sentei um pouco a olhar a fusão do mar com o céu.Senti uns raios de sol aquecer-me o rosto, sorri pois senti aquele calor tão bom, um calor que arde sem me consumir, senti-me e sinto-me envolto por esta chama que me alimenta.

Peguei no livro da Sophia de Mello "Contos exemplares" e comecei a ler, saltou-me a vista uma passagem que quero aqui partilhar pois é tudo o que me vai na alma e eu melhor não conseguiria trasnmitir.

"Como estás longe e oculto e presente! Oiço apenas o ressoar do teu siêncio que avança para mim e a minha vida apenas toca a franja límpida da tua ausência. Fito em meu redor a solenidade das coisas como quem tenta decifrar uma escrita difícil. Mas és tu que me lês e me conheces. Chama à tua claridade a totalidade do meu ser para que o meu pensamento se torne transparente e possa escutar a palavra que desde sempre me dizes."

Acredito neste amor que ama, que está longe mas que se faz presente. No silêncio dá-se o encontro encontro com aquele que me conhece e decifra a escrita difícil da minha vida. Desde sempre estiveste à minha espera e eu à tua, uma história que já foi escrita...